Desde que o ser humano ergueu os olhos para o céu e percebeu que os ciclos da natureza refletiam também os ciclos da alma, nasceu o desejo de compreender o invisível.
A cartomancia, em sua essência, é uma das mais antigas linguagens simbólicas criadas para esse propósito, decifrar os sinais do universo e traduzir as mensagens do inconsciente por meio de imagens, arquétipos e símbolos.
Os primórdios da adivinhação
Muito antes das cartas, povos antigos já buscavam respostas nas forças da natureza.
Sacerdotes egípcios observavam o voo dos pássaros e o movimento das águas do Nilo, oráculos gregos escutavam o som do vento nas folhas sagradas, druidas celtas liam os galhos e as pedras, e xamãs recebiam mensagens em sonhos e estados de transe.
Essas práticas, chamadas de mânticas, eram formas de comunicação entre o visível e o invisível.
Cada cultura desenvolveu seu próprio sistema simbólico para interpretar a linguagem divina, e foi dessa busca que nasceu o que hoje chamamos de cartomancia, o ato de ler cartas ou símbolos para compreender os desígnios da alma.
Na Babilônia e no Egito Antigo já existiam formas de adivinhação com figuras e números.
Mas as primeiras cartas usadas como instrumento oracular surgiram na Idade Média, quando os baralhos começaram a circular pela Europa.
E é também nesse período que a figura feminina começa a se destacar na arte da adivinhação.
As mulheres, guardiãs dos ciclos da vida e do mistério da natureza, tornaram-se intuitivamente associadas à magias e feitiçaria, à cura, e à sabedoria ancestral.
Muitas delas eram curandeiras, parteiras, ervateiras ou videntes que compreendiam a linguagem simbólica das plantas, dos astros e das cartas.
Chamadas de bruxas, essas mulheres eram, na verdade, portadoras de conhecimento espiritual e natural, perseguidas em tempos de medo, mas procuradas e reverenciadas por quem reconhecia sua conexão com o invisível e com o mistério da existência.
O nascimento do Tarot
O Tarot surgiu por volta do século XV, provavelmente na Itália renascentista, em cidades como Milão, Ferrara e Bolonha.
Naquela época, o baralho era conhecido como tarocchi, e utilizado em jogos da nobreza italiana.
Com o tempo, ocultistas, filósofos e estudiosos perceberam que as imagens das cartas continham símbolos universais, que refletiam etapas da alma e da jornada humana, os mesmos arquétipos presentes nos mitos, religiões e histórias de todos os povos.
Assim, o Tarot deixou de ser apenas um jogo e passou a ser reconhecido como um espelho da alma, uma ferramenta de autoconhecimento e introspecção.
O Tarot de Marselha
Durante o século XVII, o Tarot se expandiu da Itália para a França, especialmente para a região de Marselha, onde os artesãos desenvolveram um estilo próprio de ilustração e colorização.
Nascia ali o Tarot de Marselha, o modelo que se tornaria a base de todos os tarots modernos.
Esse baralho é composto por 78 cartas:
22 Arcanos Maiores, que representam arquétipos universais, grandes lições espirituais e forças da alma.
56 Arcanos Menores, que refletem o cotidiano, emoções, desafios e experiências humanas.
As imagens do Tarot de Marselha são repletas de códigos ocultos.
Cada cor, gesto e expressão contém significados simbólicos que revelam estados da alma e fases da jornada de crescimento interior.
Por isso, o Tarot não é um instrumento para “prever o futuro”, mas sim uma ponte entre o inconsciente e o consciente, um mapa simbólico da alma humana.
Os oráculos modernos
Com o passar dos séculos, o ser humano continuou expandindo sua forma de dialogar com o sagrado.
Assim nasceram os oráculos contemporâneos, ou seja, cartas inspiradas em anjos, arquétipos, animais de poder, cristais, deuses, flores e outros elementos da natureza.
Diferente do Tarot, que possui uma estrutura fixa de 78 cartas, os oráculos são livres em número e conceito.
Cada criador canaliza uma energia específica, transformando o oráculo em um portal de sabedoria único.
Esses oráculos são como mensageiros sutis, oferecendo orientações e reflexões para o momento presente.
Eles funcionam como espelhos da alma, ajudando quem busca compreender seus próprios sentimentos, intuições e caminhos.
Runas, Búzios e outros sistemas simbólicos
A arte oracular assumiu diferentes formas conforme as culturas.
Entre os povos germano-nórdicos, surgiram as Runas, símbolos gravados em pedras, galhos ou pedaços de madeira.
Seu alfabeto sagrado, conhecido como Futhark Antigo, surgiu por volta do século II d.C. entre os povos germânicos, e se espalhou pela Escandinávia, sendo usado por tribos vikings e nórdicas.
Cada Runa representa uma força da natureza, uma energia espiritual e uma lição de sabedoria ancestral.
Elas eram usadas tanto como alfabeto sagrado quanto como instrumento de adivinhação e proteção.
Nas tradições afro-brasileiras, temos o Jogo de Búzios, oráculo sagrado que conecta o consulente aos Orixás e às forças da ancestralidade.
Ele é um instrumento de orientação espiritual, guiado por sacerdotes e mães ou pais de santo.
No Oriente, o I Ching (ou “Livro das Mutações”) é um dos textos mais antigos do mundo, usado há mais de 3 mil anos na China para interpretar os movimentos do Tao, o fluxo natural da vida.
Cada hexagrama revela dinâmicas energéticas e ensina sobre a impermanência e o equilíbrio entre o céu e a terra.
A função espiritual da cartomancia
A verdadeira cartomancia não é uma tentativa de controlar o destino, mas um ato de escuta sagrada.
As cartas, as runas ou os búzios não sentenciam o que vai acontecer, eles apenas mostram caminhos, tendências e possibilidades.
A leitura simbólica permite compreender o que vibra no momento presente, para que cada um possa escolher conscientemente como agir.
O oráculo é uma ponte entre o humano e o divino, entre a intuição e a razão.
Ele desperta o olhar interno, a clareza e a sabedoria da alma.
E quando usado com respeito e intenção pura, torna-se uma ferramenta de lapidação, sabedoria, revelação e reconexão espiritual.
Hoje, o Tarot e os oráculos são reconhecidos também como ferramentas terapêuticas.
Psicólogos e terapeutas utilizam o simbolismo das cartas como um recurso de expansão da consciência, auxiliando no entendimento de padrões e na integração emocional.
Cada leitura é uma jornada interior, uma conversa com o invisível, um espelho que revela o que já existe dentro de nós.
E é justamente por isso que a magia dos oráculos nunca se perdeu, ela se renova a cada geração, acompanhando o despertar da humanidade.
✨ Nos próximos capítulos desta nova categoria do blog Flor de Brisa, mergulharemos nos sistemas e cartas que compõem essa sabedoria ancestral, do Tarot de Marselha aos oráculos e adivinhatórios modernos, para que cada símbolo revele um pouco mais sobre quem somos e o caminho que nossa alma escolheu percorrer nessa misteriosa e fascinante jornada terrestre. 







